sexta-feira, junho 03, 2005

A cultura de estado e/ou o estado dessas coisas.

Quando se passa uma vista de olhos pelo Orçamento de Estado para 2005 constata-se que a cultura lá continua a receber uns trocos. Devem partir de um princípio de livre acesso à mesma, ou não fossem as importâncias dadas à sociedade da informação duas vezes superiores às das contas dos nossos artistas subsídio-dependentes. Há no entanto algumas lógicas e um sentido pragmático que me obriga a achar isto tudo uma grande trapalhada. Criaram-se institutos estatais (o Português do Património Arquitectónico, o Português de Museus, o de Cinema Audiovisual Multimédia, a Cinemateca Portuguesa/Museu do Cinema que depois distribuem como bem entendem as dádivas do governo pelos projectos que mais lhes agradam. No Mapa OP-01 Ministério da Cultura, não se deslumbram apoios às artes de palco, nem às artes de rua... O Instituto das Artes também me deve ter escapado, ou então a eles. Caso tenha sido um corte propositado, têm todo o meu apoio. Mas falta coerência.

Sugestão:
 
Como evitar o desaparecimento das artes mais nobres?
Em vez de se financiarem 30 companhias de teatro, 100 museus, e 1000 outras casas de espectáculo porque não fazer uma selecção nacional de artistas, actores, comissários, encenadores e todos os outros empregados que giram à volta deste mundo (eleita em referendo, votada no parlamento, ou decidida via SMS...) para ocupar três ou quatro museus dedicados às velhas artes. Como os planetários, e os jardins zoológicos... não há um em cada cidade, pois não?

Para não gerar demasiada polémica, o estado podia transformar todos os edifícios que albergam associações culturais, em casas equipadas com redes Wi-Fi de livre acesso que faziam o que bem entendessem. Em vez de programadores culturais integrados em lobbies sofisticados, estariamos a empregar engenheiros de informática e técnicos especializados em artes do espectáculo. A web e a tal sociedade da informação tratariam de editar os conteúdos de forma orgânica. Este modelo podia ser aplicado às actuais Associações Culturais de aldeias e vilas que gastam o dinheiro em novos jogos de damas, mesas de snooker e bons baralhos de cartas e podia mesmo transformar por completo os teatros, casas da música e centros culturais. De momento são as bibliotecas que mais se aproximam deste modo de organização. A diferença é que elas são financiadas pelas autarquias, e o que se pretende é garantir o máximo autonomia aos Cyber-centros do Povo.

O programa Medici
O Programa Medici seria uma conjunto de acções desenvolvidas a partir dos novos centros culturais de modo a angariar fundos a partir de publicidade nos próprios espaços físicos e virtuais. Uma espécie de mecenato privado que poderia ajudar o presidente da associação, ou outro bem intencionado, a comprar leitores/gravadores de DVD novos. Aproxima-se a largos passos a Casa da Música com instalações interactivas e lasers Smirnoff Ice, ou o Rivoli com Sony E-papers. Eles já não estão assim tão longe desse tipo de apresentação pública do espaço.

Como subsistiriam os artistas emergentes que nem sequer estariam na Selecção B?
Consultoria, MacDonalds, galerias privadas, arrumar carros, pilotar aviões, engenharias electrónicas, matemáticas, dentistas, empresários, design... tudo menos apoios estatais. A parte fixe, é que a maior parte desses artistas, nem sequer chegaria ao mercado da arte, pois este processo necessitaria paralelamente de um corte de vagas no ensino artístico estatal na ordem dos 40, 50 ou mesmo 60%. Convenhamos, que a produção excessiva de artistas não ajuda à retoma económica.
"Ah! issé por causa da função pública que num faz um nada e estou 3 horas nas filas da loja do cidadãopa ter umamérda duma certidão de nascimento para provar ao banco que nasci!" Quem não faz nada de útil é preterido naturalmente pelas "regras do capitalismo" e não nos precisamos de preocupar com isso. Muito menos com os que ficam de fora.

Podemos sempre achar isto tudo uma trapalhada ainda maior e pensar que se calhar o melhor é mesmo continuar tudo igual.
Ou se calhar, melhor (terceiro plano), porque não demolir todos os edifícios que prestam serviços culturais financiados e, com os destroços, construir uma grande muralha nas zonas fronteiriças, aproveitando os monitores dos palcos, as cadeiras das bancadas dos estádios, as esculturas do Chafes, as mais pesadas do Cabrita, e os aviões da Defesa, para declaramos guerra a Espanha "bombardeando" o Reiña Sofia com os pianos de cauda.

1 Comments:

Blogger joao said...

15 days and 1000 page views after, and still no comment... mmm... I wonder why... Maybe I should have written it in English.

10:44 da tarde  

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