terça-feira, outubro 26, 2004

Formula 2.2

Formula 2.2, em Serralves, de Ryoji Ikeda foi um espectáculo que mudou a minha maneira de encarar um palco, um ecrã e um músico. Este compositor japonês, apresentou 1 dia depois da inauguração de Paula Rego a fase em que se encontra este seu último trabalho. Já tinha alguns albúns dele mas não sabia que ia ser assim:
Não estava ninguém no palco. O público estava sentado no auditório e as luzes apagaram-se. Apareceu um rectângulo cinzento escuro (que deveria ser preto) oriundo de um projector situado no topo do espaço em que nos encontrávamos. Lentamente foi subindo de amplitude um sinal sonoro com frequências quase inaudíveis de tão altas (entre 14 a 16 Khz). A aplitude era modulada por uma frequência bem mais lenta que dava ao som um ar menos maquinal. Em "fade in" surgiu um linha horizontal branca que ocupava o ecrã de uma ponta à outra. 1 ou 2 minutos depois entrou pela margem esquerda um linha vertical branca que se movimentou rapidamente até ao centro, altura em que foi disparado para o público um "strobe", situado acima do ecrã, sicronizado com um piiiiii que reverberou durante alguns segundos (desculpem a onomatopeia mas é mais fácil explicar assim). Escusado será dizer que toda gente que tinha os olhos abertos ficou cega durante algum tempo, ouvindo.
A situação complexificou-se com o aparecimento de novas sinusoidais que gradualmente desciam o tom até a minha cadeira tremer com os subgraves que saíam das colunas. Durante todo o tempo em que ali estive não parei de ser surprendido, confundido pelas relações, mais ou menos básicas, respectivamente, que se podem criar entre som e imagem. Cheguei mesmo a assustar-me com uma quebra do ruído branco (TFFFFFFFFFF) quando subitamente passou para um quase silêncio. O silêncio e a calma só podem existir quando nos habituamos à constância. Por outras palavras tudo o que se ouve sempre, é silêncio.
Recomendo a peça a todos os amantes de música, e não pensem que é uma daquelas intelectualices só para quem tem paciência. Em Formula 2.2 é simplesmente impossível não sentir o som. Uma experiência sinestésica a não perder.